terça-feira, 5 de julho de 2011

Mini Curso 1


EDUCOMUNICAÇÃO MUSEAL: AÇÃO EDUCATIVA PARA MUSEUS VETORES NA CONSTRUÇÃO DE CIDADANIA


(Juliana Maria de Siqueira, Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP, linha de pesquisa Educomunicação, Especialista em Multimeios pela Unicamp e MBA em Marketing de Serviços pela ESPM, Especialista Cultural e Turístico no Museu da Imagem e do Som de Campinas, responsável pelo programa educativo Pedagogia da Imagem)1


Resumo
Este minicurso pretende compartilhar uma visão transdisciplinar da ação educativa em museus, originada da aplicação de conceitos e metodologias do campo da Educomunicação (cujos fundamentos foram sistematizados por Ismar de Oliveira Soares e demais pesquisadores ligados à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) à prática desenvolvida pela equipe do Museu da Imagem e do Som de Campinas, no âmbito do programa educativo Pedagogia da Imagem, em funcionamento desde 2003 e reconhecido, em 2009, com a menção honrosa do Prêmio Darcy Ribeiro, conferida pelo Ministério da Cultura.

Esta abordagem transversal permite enxergar a ação educativa em museus como um processo comunicativo, de apropriação de linguagens e de desenvolvimento de proficiências culturais, cujos protagonistas são os sujeitos e grupos educandos em interação. Inspirada na pedagogia freireana, a educomunicação museal confere ao visitante ou usuário do museu um papel valorizado, contribuindo para rever o lugar da ação educativa no processo museológico – não como elo final de comunicação do patrimônio ao público, ainda que integrado a todas as demais funções desempenhadas por especialistas, mas, potencialmente, como elemento que permeia/ constitui cada atividade museológica – e ampliando os significados do patrimônio. Aplicada por meio da gestão participativa de projetos, a perspectiva educomunicativa colabora para que o educando se descubra produtor de cultura, sujeito histórico e agente na conquista e no exercício de direitos, dentre os quais os direitos à cultura e à comunicação.

Para realizar este percurso, tomaremos como ponto de partida a revisão histórica da função educativa dos museus, culminando no reconhecimento de que, contemporaneamente, uma particularidade se coloca no contexto brasileiro: a de que os museus (como espaços ou ecossistemas educativos não-formais) sejam vetores de desenvolvimento social e construção de cidadania. Em seguida, apresentaremos três linhas-mestras do pensamento da educação museal brasileira: a educação patrimonial, a arte/educação e a comunicação pública da ciência, ressaltando a diversidade de propostas, suas características e contribuições.

Finalmente, trataremos da Educomunicação, apresentando as origens, fundamentos e áreas de ação deste campo de pesquisa e intervenção social. Pretendemos, a partir da apresentação do estudo de caso do Programa Pedagogia da Imagem, demonstrar como esses conceitos e metodologias podem resultar em soluções transformadoras e instigantes no contexto real de pequenos e médios museus, com orçamentos limitados, mas com o compromisso e o desafio de compreender e integrar suas comunidades ao corpo de seus interlocutores e usuários frequentes.

Palavras-chave
Educação museal, educação não-formal, cidadania, Educomunicação, ecossistema educomunicativo.

Objetivos
A presença no Encontro Nacional dos Estudantes de Museologia, aberto à participação de técnicos, educadores e interessados no tema constitui, para os profissionais de museus, valiosa oportunidade de estabelecer a troca de experiências, submetendo suas práticas e teorizações à avaliação dos pares e, simultaneamente, a possibilidade de dar visibilidade e disseminar, numa rede colaborativa, ações e concepções tecidas no cotidiano do trabalho. Também é uma ocasião propícia para confrontar suas formulações, elaboradas em um contexto local, com realidades de diferentes regiões do país, num diálogo produtivo que amplia visões de mundo, oferece desafios, incorpora questionamentos, aperfeiçoa nossa prática. Essas possibilidades de aprendizado são o que nos move à exposição da presente proposta. Com relação ao minicurso, tem-se como objetivos:

a) Geral: Compartilhar a experiência da ação educativa desenvolvida no Museu da Imagem e do Som de Campinas (Pedagogia da Imagem), em suas dimensões prática e teórica, contribuindo para introduzir e difundir entre estudantes e profissionais de Museologia os conceitos e metodologias da Educomunicação, de maneira que suas implicações possam ser exploradas, testadas, compreendidas, avaliadas e ampliadas por uma rede de profissionais de museus.

b) Específicos:
  • Reconhecer as experiências e saberes dos participantes em relação à educação museal, identificando os desafios percebidos no cotidiano de trabalho ou estudos;
  • Discutir a função educativa do museu, verificando sua transformação ao longo do tempo e enfocando a perspectiva proposta pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)/ Ministério da Cultura, do museu como vetor de desenvolvimento social e construção de cidadania – consequentemente, analisando suas implicações para a prática educativa;
  • Rever as linhas de pensamento mais disseminadas no campo da educação museal brasileira, ressaltando sua diversidade, suas contribuições e características;
  • Apresentar o campo transversal da Educomunicação, sua origem, fundamentos e áreas de ação, discutindo a singularidade de seus aportes para a realização da função educativa dos museus;
  • Promover a análise de um caso concreto de aplicação do conceito de Educomunicação museal, avaliando seu potencial transformador para museus comunitários e museus de pequeno e médio porte;
  • Estabelecer uma rede colaborativa permanente (pós-curso) entre os participantes interessados em trocar experiências e desenvolver aplicações no campo da Educomunicação museal, por meio da constituição de uma comunidade virtual, utilizando ferramentas como Google Sites, redes sociais e grupos de discussão.

Justificativa
A ação educativa em museus brasileiros, graças ao trabalho de inúmeros profissionais, assim como a fatores estruturais favoráveis, tem alcançado cada vez mais importância nas instituições e políticas públicas. Grandes museus, apoiados por seus patrocinadores, contam com equipes bem estruturadas e desenvolvem trabalhos instigantes, envolvendo variados tipos de usuários, acolhendo pessoas com necessidades especiais ou em situação de vulnerabilidade social. Pequenos e médios museus Brasil afora, porém, ainda enfrentam dificuldades, com menores recursos, equipes reduzidas e, por vezes, atividades pouco diversificadas. Seus educadores travam uma luta constante para vencer limitações, incluir públicos, romper muros, inovar. O esforço pelo reconhecimento e valorização do setor e seu profissional está longe do fim e exige do educador a profissionalização, isto é, não apenas a formação acadêmica, mas a elaboração de um conhecimento próprio, fundamentado na experiência concreta e compartilhado na reflexão coletiva. Um saber que lhe permita, na práxis cotidiana, atuar de maneira autônoma na leitura de cenários e na proposição de soluções criativas e eficazes para os desafios a ele colocados.

Essa tarefa compreende, além disso, a construção de um pensamento próprio, que seja capaz de incorporar e interpretar, teoricamente, a diversidade das experiências desenvolvidas em todo o país. A realidade sociocultural brasileira nos propõe questões peculiares (como, por exemplo, democratizar o espaço museal num contexto ainda marcado por grandes desigualdades), mas também nos apresenta um potencial singular (a nossa incrível diversidade cultural e capacidade de canibalizar, hibridizar, mestiçar as formas e manifestações entre si). Entretanto, nossa produção acadêmica e as publicações referentes à educação museal são recentes, relativamente escassas ou pouco difundidas. As principais referências para a área, conforme temos apurado com especialistas do setor, ainda provêm do exterior. Torna-se necessário, assim, recuperar as principais linhas de pensamento surgidas em nosso contexto e avaliá-las à luz do presente. Da mesma maneira, é útil ampliarmos o olhar para novos campos de reflexão e ação social que se propõem a uma abordagem transdisciplinar da educação, com o compromisso de desenvolver nos indivíduos as capacidades comunicativas e culturais que os tornem aptos a viver e conviver no século XXI, exercendo plenamente sua cidadania, numa cultura de paz. Estamos nos referindo à Educomunicação.

A realização deste minicurso será uma oportunidade de colaborar nesse debate, estabelecendo uma ponte para o diálogo produtivo e o intercâmbio com os estudantes e colegas de profissão.

Metodologia
A metodologia empregada no curso tem como objetivo encorajar a participação dos inscritos, de modo a estabelecer a interação e troca de conhecimentos sobre o assunto. São previstos momentos de sensibilização para o tema; compartilhamento de experiências; apresentação e debate de conceitos e metodologias e estudo de caso. Textos, links e indicações de leitura serão disponibilizados em um endereço virtual e os interessados serão incentivados a fazer parte de uma rede colaborativa, por meio de grupo de discussão e/ou rede social a se criar.
Tópicos a serem abordados no minicurso
Primeiro dia:
  1. Apresentação dos participantes e da ministrante, realizando um reconhecimento sobre seus interesses, experiências e conhecimentos prévios em relação à ação educativa em museus.
  2. Exibição de vídeo de curta duração (15 min). Atividade de sensibilização para a discussão da realidade dos museus brasileiros e sua relação com as comunidades em que estão inseridos, visando identificar os desafios e compromissos dos educadores de museus.
  3. Discussão sobre a função educativa dos museus e as diretrizes do Instituto Brasileiro de Museus. O museu como vetor de desenvolvimento social e construção de cidadania. Apresentação de informações em power point, exposição e debate.
  4. Apresentação das linhas de pensamento brasileiras mais disseminadas sobre a educação museal, em três vertentes principais: educação patrimonial (monumentos, museus históricos e de arqueologia); arte/educação, na abordagem triangular de Ana Mae Barbosa (museus de arte); e a comunicação pública da ciência (museus de ciência). Serão apresentadas as suas linhas gerais, características e contribuições, além de referências de leitura e pesquisa para aprofundamento pelos estudantes.
Segundo dia:
  1. Debate sobre as linhas de pensamento abordadas, visando identificar limites destas perspectivas.
  2. Discussão dos conceitos e relações entre comunicação, educação e cultura para a compreensão da origem e dos fundamentos da Educomunicação. Apresentação de suas áreas de ação e metodologias.
  3. Estudo de caso do Programa Pedagogia da Imagem, seguido de debate onde os participantes devem elaborar suas conclusões e avaliar o aprendizado.
  4. Formação de grupo de discussão via Internet/ troca de contatos entre os participantes.


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