EDUCOMUNICAÇÃO MUSEAL: AÇÃO
EDUCATIVA PARA MUSEUS VETORES NA CONSTRUÇÃO DE CIDADANIA
(Juliana Maria de Siqueira, Mestre em Ciência da
Comunicação pela ECA/USP, linha de pesquisa Educomunicação,
Especialista em Multimeios pela Unicamp e MBA em Marketing de
Serviços pela ESPM, Especialista Cultural e Turístico no Museu da
Imagem e do Som de Campinas, responsável pelo programa educativo
Pedagogia da Imagem)1
Resumo
Este minicurso pretende compartilhar uma visão transdisciplinar da
ação educativa em museus, originada da aplicação de conceitos e
metodologias do campo da Educomunicação (cujos fundamentos foram
sistematizados por Ismar de Oliveira Soares e demais pesquisadores
ligados à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo) à prática desenvolvida pela equipe do Museu da Imagem e do
Som de Campinas, no âmbito do programa educativo Pedagogia da
Imagem, em funcionamento desde 2003 e reconhecido, em 2009, com a
menção honrosa do Prêmio Darcy Ribeiro, conferida pelo Ministério
da Cultura.
Esta abordagem transversal permite enxergar a ação educativa em
museus como um processo comunicativo, de apropriação de linguagens
e de desenvolvimento de proficiências culturais, cujos protagonistas
são os sujeitos e grupos educandos em interação. Inspirada na
pedagogia freireana, a educomunicação museal confere ao visitante
ou usuário do museu um papel valorizado, contribuindo para rever o
lugar da ação educativa no processo museológico – não como elo
final de comunicação do patrimônio ao público, ainda que
integrado a todas as demais funções desempenhadas por
especialistas, mas, potencialmente, como elemento que permeia/
constitui cada atividade museológica – e ampliando os significados
do patrimônio. Aplicada por meio da gestão participativa de
projetos, a perspectiva educomunicativa colabora para que o educando
se descubra produtor de cultura, sujeito histórico e agente na
conquista e no exercício de direitos, dentre os quais os direitos à
cultura e à comunicação.
Para realizar este percurso, tomaremos como ponto de partida a
revisão histórica da função educativa dos museus, culminando no
reconhecimento de que, contemporaneamente, uma particularidade se
coloca no contexto brasileiro: a de que os museus (como espaços ou
ecossistemas educativos não-formais) sejam vetores de
desenvolvimento social e construção de cidadania. Em seguida,
apresentaremos três linhas-mestras do pensamento da educação
museal brasileira: a educação patrimonial, a arte/educação e a
comunicação pública da ciência, ressaltando a diversidade de
propostas, suas características e contribuições.
Finalmente, trataremos da Educomunicação, apresentando as origens,
fundamentos e áreas de ação deste campo de pesquisa e intervenção
social. Pretendemos, a partir da apresentação do estudo de caso do
Programa Pedagogia da Imagem, demonstrar como esses conceitos e
metodologias podem resultar em soluções transformadoras e
instigantes no contexto real de pequenos e médios museus, com
orçamentos limitados, mas com o compromisso e o desafio de
compreender e integrar suas comunidades ao corpo de seus
interlocutores e usuários frequentes.
Palavras-chave
Educação museal, educação não-formal, cidadania, Educomunicação,
ecossistema educomunicativo.
Objetivos
A presença no Encontro Nacional dos Estudantes de Museologia, aberto
à participação de técnicos, educadores e interessados no tema
constitui, para os profissionais de museus, valiosa oportunidade de
estabelecer a troca de experiências, submetendo suas práticas e
teorizações à avaliação dos pares e, simultaneamente, a
possibilidade de dar visibilidade e disseminar, numa rede
colaborativa, ações e concepções tecidas no cotidiano do
trabalho. Também é uma ocasião propícia para confrontar suas
formulações, elaboradas em um contexto local, com realidades de
diferentes regiões do país, num diálogo produtivo que amplia
visões de mundo, oferece desafios, incorpora questionamentos,
aperfeiçoa nossa prática. Essas possibilidades de aprendizado são
o que nos move à exposição da presente proposta. Com relação ao
minicurso, tem-se como objetivos:
a) Geral: Compartilhar a experiência da ação educativa
desenvolvida no Museu da Imagem e do Som de Campinas (Pedagogia da
Imagem), em suas dimensões prática e teórica, contribuindo para
introduzir e difundir entre estudantes e profissionais de Museologia
os conceitos e metodologias da Educomunicação, de maneira que suas
implicações possam ser exploradas, testadas, compreendidas,
avaliadas e ampliadas por uma rede de profissionais de museus.
b) Específicos:
- Reconhecer as experiências e saberes dos participantes em relação à educação museal, identificando os desafios percebidos no cotidiano de trabalho ou estudos;
- Discutir a função educativa do museu, verificando sua transformação ao longo do tempo e enfocando a perspectiva proposta pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)/ Ministério da Cultura, do museu como vetor de desenvolvimento social e construção de cidadania – consequentemente, analisando suas implicações para a prática educativa;
- Rever as linhas de pensamento mais disseminadas no campo da educação museal brasileira, ressaltando sua diversidade, suas contribuições e características;
- Apresentar o campo transversal da Educomunicação, sua origem, fundamentos e áreas de ação, discutindo a singularidade de seus aportes para a realização da função educativa dos museus;
- Promover a análise de um caso concreto de aplicação do conceito de Educomunicação museal, avaliando seu potencial transformador para museus comunitários e museus de pequeno e médio porte;
- Estabelecer uma rede colaborativa permanente (pós-curso) entre os participantes interessados em trocar experiências e desenvolver aplicações no campo da Educomunicação museal, por meio da constituição de uma comunidade virtual, utilizando ferramentas como Google Sites, redes sociais e grupos de discussão.
Justificativa
A ação educativa em museus brasileiros, graças ao trabalho de
inúmeros profissionais, assim como a fatores estruturais favoráveis,
tem alcançado cada vez mais importância nas instituições e
políticas públicas. Grandes museus, apoiados por seus
patrocinadores, contam com equipes bem estruturadas e desenvolvem
trabalhos instigantes, envolvendo variados tipos de usuários,
acolhendo pessoas com necessidades especiais ou em situação de
vulnerabilidade social. Pequenos e médios museus Brasil afora,
porém, ainda enfrentam dificuldades, com menores recursos, equipes
reduzidas e, por vezes, atividades pouco diversificadas. Seus
educadores travam uma luta constante para vencer limitações,
incluir públicos, romper muros, inovar. O esforço pelo
reconhecimento e valorização do setor e seu profissional está
longe do fim e exige do educador a profissionalização, isto é, não
apenas a formação acadêmica, mas a elaboração de um conhecimento
próprio, fundamentado na experiência concreta e compartilhado na
reflexão coletiva. Um saber que lhe permita, na práxis cotidiana,
atuar de maneira autônoma na leitura de cenários e na proposição
de soluções criativas e eficazes para os desafios a ele colocados.
Essa tarefa compreende, além disso, a construção de um pensamento
próprio, que seja capaz de incorporar e interpretar, teoricamente, a
diversidade das experiências desenvolvidas em todo o país. A
realidade sociocultural brasileira nos propõe questões peculiares
(como, por exemplo, democratizar o espaço museal num contexto ainda
marcado por grandes desigualdades), mas também nos apresenta um
potencial singular (a nossa incrível diversidade cultural e
capacidade de canibalizar, hibridizar, mestiçar as formas e
manifestações entre si). Entretanto, nossa produção acadêmica e
as publicações referentes à educação museal são recentes,
relativamente escassas ou pouco difundidas. As principais referências
para a área, conforme temos apurado com especialistas do setor,
ainda provêm do exterior. Torna-se necessário, assim, recuperar as
principais linhas de pensamento surgidas em nosso contexto e
avaliá-las à luz do presente. Da mesma maneira, é útil ampliarmos
o olhar para novos campos de reflexão e ação social que se propõem
a uma abordagem transdisciplinar da educação, com o compromisso de
desenvolver nos indivíduos as capacidades comunicativas e culturais
que os tornem aptos a viver e conviver no século XXI, exercendo
plenamente sua cidadania, numa cultura de paz. Estamos nos referindo
à Educomunicação.
A realização deste minicurso será uma oportunidade de colaborar
nesse debate, estabelecendo uma ponte para o diálogo produtivo e o
intercâmbio com os estudantes e colegas de profissão.
Metodologia
A metodologia empregada no curso tem como objetivo encorajar a
participação dos inscritos, de modo a estabelecer a interação e
troca de conhecimentos sobre o assunto. São previstos momentos de
sensibilização para o tema; compartilhamento de experiências;
apresentação e debate de conceitos e metodologias e estudo de caso.
Textos, links e indicações de leitura serão disponibilizados em um
endereço virtual e os interessados serão incentivados a fazer parte
de uma rede colaborativa, por meio de grupo de discussão e/ou rede
social a se criar.
Tópicos a serem abordados no minicurso
Primeiro dia:
- Apresentação dos participantes e da ministrante, realizando um reconhecimento sobre seus interesses, experiências e conhecimentos prévios em relação à ação educativa em museus.
- Exibição de vídeo de curta duração (15 min). Atividade de sensibilização para a discussão da realidade dos museus brasileiros e sua relação com as comunidades em que estão inseridos, visando identificar os desafios e compromissos dos educadores de museus.
- Discussão sobre a função educativa dos museus e as diretrizes do Instituto Brasileiro de Museus. O museu como vetor de desenvolvimento social e construção de cidadania. Apresentação de informações em power point, exposição e debate.
- Apresentação das linhas de pensamento brasileiras mais disseminadas sobre a educação museal, em três vertentes principais: educação patrimonial (monumentos, museus históricos e de arqueologia); arte/educação, na abordagem triangular de Ana Mae Barbosa (museus de arte); e a comunicação pública da ciência (museus de ciência). Serão apresentadas as suas linhas gerais, características e contribuições, além de referências de leitura e pesquisa para aprofundamento pelos estudantes.
Segundo dia:
- Debate sobre as linhas de pensamento abordadas, visando identificar limites destas perspectivas.
- Discussão dos conceitos e relações entre comunicação, educação e cultura para a compreensão da origem e dos fundamentos da Educomunicação. Apresentação de suas áreas de ação e metodologias.
- Estudo de caso do Programa Pedagogia da Imagem, seguido de debate onde os participantes devem elaborar suas conclusões e avaliar o aprendizado.
- Formação de grupo de discussão via Internet/ troca de contatos entre os participantes.
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